O que significa educação inclusiva para você? Qual a sua diferença para, digamos, a educação convencional? A assistente de orientação educacional do Colégio Rio Branco Campinas, Daiana Ruas, responde objetivamente: educação inclusiva significa oferecer condições e oportunidades diversas para que o aluno acesse o currículo escolar por meio de ferramentas e estratégias pedagógicas que atendam, de modo qualitativo, as diversas demandas educativas. Isso garante, além do acesso, a permanência e participação do educando em seu processo de escolarização. E é um pouco desse trabalho que ela vem realizando, em parceria com a equipe gestora e professores do colégio, que será apresentado no VIII Congresso ICLOC de Práticas na Sala de Aula, que acontecerá dia 14 de maio, em São Paulo.
Os trabalhos abordarão os casos de dois alunos, um deles com paralisia cerebral, e o outro, com autismo. Com o auxílio do professor Ricardo Thimossi, que acompanha um desses alunos no seu dia a dia na escola, e também da professora Cintia Cardoso, ela contará um pouco sobre a necessidade da implantação da adaptação curricular na educação inclusiva. “Na ocasião, explanarei sobre o caso do nosso aluno diagnosticado com autismo, que em 2015 cursava o 3º ano do Fundamental I. Após avaliação contínua e sistemática do desenvolvimento escolar do aluno, a adaptação curricular foi pensada para melhor atendê-lo frente às suas demandas pedagógicas”, diz Daiana. Ao longo do ano letivo, o trabalho foi planejado e executado antecipadamente com o auxílio da professora titular da sala, Cintia, e da estagiária Bárbara Silveira. A adaptação foi pensada de modo que o aluno estivesse inserido no mesmo conteúdo que os demais da sala, somente com algumas alterações de acordo com sua demanda e temporalidade.
As modificações das atividades partiam dos livros de português e matemática, baseados na dificuldade da criança em desenvolver atividades relacionadas a escrita. No início, segundo a assistente de orientação, notava-se uma recusa às atividades que continham essas características, desencadeando o aumento das estereotipias, recusas e esquivas do aluno. Foi preciso, então, traçar um plano de intervenção com o objetivo de maximizar a participação efetiva do aluno nas atividades de classe e com o grupo. “Diante do planejamento da professora proposto para a série, elenquei quais objetivos e conteúdos deveriam ser atingidos ao longo do trimestre, bem como as atividades do livro que seriam mais assertivas e funcionais para o aluno, adaptando-as e focando-as na alfabetização. Utilizamos mais perguntas diretas e menos inferências, enfocando no lúdico e com apelo visual, e isso desencadeou no educando um interesse em participar das aulas e o surgimento de um círculo virtuoso: se eu consigo fazer algo, o faço com mais entusiasmo e empenho mais esforços, recebo elogios por isso, assim me sinto estimulado a continuar”, explica Daiana.
A professora Cintia Cardoso, que lecionava ao garoto na época, se lembra com muito carinho de toda a evolução desse trabalho. “Semanalmente nos reuníamos em equipe para planejar atividades em cima do material didático da sala. A criança era incluída dentro da rotina dos colegas e do conteúdo aprendido em sala, tudo planejado de acordo com a capacidade dele. Participamos de conquistas enormes, como no trabalho de rotina, que no começo do ano era reforçado de hora em hora, e no final ele já fazia tudo sozinho, com muita autonomia”, discorre. Tanto a professora quanto a assistente de orientação reforçam que as avaliações desse aluno devem ser realizadas de forma continua, sistemática e sempre comparando o indivíduo com ele mesmo. Agora, no 4º ano, ele já não necessita mais de adaptação em alguns livros, mostra menos quadros de ansiedade generalizada e mostra interesse espontâneo por matérias de sua preferência.
Já o outro estudo a ser apresentado no evento refere-se ao aluno com paralisia cerebral, na época estudante do 9º ano do Fundamental II, cuja demanda educativa envolveu a adaptação curricular, bem como do mobiliário e materiais de uso diário, como mesa, lápis, caderno e provas. “O trabalho com o aluno envolveu de forma contínua a parceria entre a equipe gestora, professores e a assistente de orientação, a fim de proporcionar a continuidade do trabalho realizado ao longo da sua vida escolar no colégio. Dentro dos planejamentos trimestrais dos professores, elaboramos um material adaptado de acordo com as necessidades educativas do aluno, porém sempre incentivando a ir um pouco mais além de sua zona de conforto”, relata Daiana. Esse conteúdo é preparado com antecedência a fim de permitir que o aluno interaja com o conteúdos, seus pares e professores, nos momentos de sala de aula, dentro do conteúdo da série
Ricardo Thimossi, que acompanha o discente no colégio desde o 5º ano, conta como é a rotina do aluno no ambiente escolar. “Ele possui prancha e cadernos adaptados, o conteúdo é muito visual e objetivo, para que ele conserve melhor a informação. Ele é muito esforçado, assimila as ideias aos poucos, mas sempre com bastante vontade de aprender”. O professor também reitera a importância desse acompanhamento individual, incentivado pelo colégio Rio Branco. “Percebi um desenvolvimento enorme nele, uma construção de rotina escolar que não havia antes: quais aulas e professores ele verá no dia, orientações dos cadernos e enunciados personalizados… isso norteou as estruturas dos trabalhos educacionais dele, que hoje está muito mais situado dentro de todo esse processo e do que é pedido em sala de aula”, aponta.
Todos esses profissionais participarão do ICLOC 2016 para contar suas experiências em cada caso. E a lição mais importante que querem compartilhar aos espectadores é a importância do trabalho em equipe. “Sem a parceria da família, professores e equipe gestora, nada seria possível. E ver cada conquista desses alunos no dia a dia acadêmico faz com que a cada dia demandemos mais esforços para dar continuidade a esse trabalho”, finaliza Daiana.